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Chicago, borro-me todo!

Assinalou-se no passado dia 1 de Maio, em todo o mundo civilizado e democrático, o Dia Mundial do Trabalhador. Curiosamente, é um dia em que os trabalhadores não trabalham, preferindo antes participar em manifestações e piqueniques pois o estômago, esse, nunca deixa de trabalhar, pobre escravo. Mas isso é o que se passa lá fora, no estrangeiro, porque por cá, a maioria dos portugueses passa o primeiro de Maio mas é enfiado nos shoppings a fazer compras, pois uma grande cadeia de supermercados oferece, todos os anos, fantásticas promoções para comemorar o Dia do Trabalhador, forçando assim os seus empregados a trabalhar até caírem para o lado de exaustão.

Historicamente, foi em Chicago que ocorreram as lutas laborais que haveriam de dar origem, à custa de muito sangue, ao Dia Mundial do Trabalhador. Por outro lado, foi também em Chicago que se desenvolveram as teses neoliberais (pelos famosos “Chicago Boys”) que haveriam de assassinar muitos dos direitos dos trabalhadores para os colocar na submissa condição de escravos dos caprichos dos mercados e do grande capital. Mas se a principal acusação que os ideólogos de esquerda fazem à nossa sociedade é de que esta é dominada pelo capitalismo selvagem que tudo arrasta à sua frente, fiquem sossegados pois há muito que o capitalismo deixou de ser selvagem e passou a ser domesticado pelos grandes grupos económicos do planeta, o que não significa necessariamente que o nível ético das práticas laborais tenha ganho muito com isso. Por cá, 43 anos volvidos do fim da ditadura, o desemprego continua a afligir muitas famílias e os poucos que têm emprego veem os seus direitos a esvair-se dia após dia. Por cá, 43 anos volvidos do fim da ditadura, a liberdade de expressão continua ainda a ser um luxo de poucos, daqueles que mandam, pois aqueles que obedecem têm que ter tento na língua, pois têm uma família para alimentar e há que preservar o emprego, pois então. Comemorar o quê? Um ordenado de miséria e promessas de uma reforma que nem para as fraldas vai dar?

Ânimo para comemorar havia em 1974, tal como nos descreve Torga no seu Diário: “Coimbra, 1 de Maio de 1974 – Colossal cortejo pelas ruas da cidade. Uma explosão gregária de alegria indutiva a desfilar diante das forças de repressão remetidas aos quartéis.

– Mais bonito do que a Rainha Santa… – dizia uma popular.”

Mas estou em crer que os grandiosos festejos do 1º de Maio de 1974 celebraram essencialmente e liberdade e não tanto o trabalhador. Afinal quem foram os anfitriões desses festejos? Mário Soares e Álvaro Cunhal. E de que me lembre, nunca vi estes dois a trabalhar…

Perante isto, só me apraz dizer: Chicago, borro-me todo!

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