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Cantinho da Carolina: Monchique

Aqui do meu cantinho observo o que se passa em Monchique…

Mas não, não vou falar das culpas ou ‘desculpas’ daquele inferno, que coloca Dante numa classe de amador.

Vou falar do que aquela serra tem, ou tinha, de mais belo; do que todos podemos perder porque continuam a não se tomar medidas que acabem de vez com estas mãos criminosas.

Lembro-me de passear por lá ainda pequena, pois a minha família juntava-se no Algarve pelas férias grandes.

Se subissem ao cume de Foia, teriam uma vista deslumbrante: a linha da costa, albufeiras, a Ria do Alvor, o Cabo de São Vicente…


Apenas dependia se o dia estivesse claro e deixasse a vista alcançar.

Hoje, se por acaso o fogo nos deixasse passar, o que veríamos?

Negridão, cinzas e fumo.

Junto à vila de Monchique, situa-se o Convento de Nossa Senhora do Desterro.

Sejamos ou não religiosos, não podemos negar o quanto estes pequenos conventos contam da nossa História.

E todos os dias estamos a perder grandes pedaços dela…

Aqui podia ver-se vários painéis de azulejos a representar as cruzes da Via Sacra, e outro a reproduzir A Última Ceia. E até para quem tem ‘Silva’ no apelido, pode ver o seu brasão de armas, o leão.

Igreja, capelas, celas, claustro, por aqueles corredores passeou a nossa História.

Mas… A imagem da Nossa Senhora do Desterro, a lenda que deu nome a esta construção manuelina, já há muito que não mora ali. Grande parte do convento conheceu a destruição com o terramoto de 1755.

E agora, parece que é à mão do homem, pecador, que pode sucumbir o pouco que lhe resta, pelas chamas.

E por falar em património.

Será que ainda poderei visitar o Parque da Mina?

Esta quinta, a que agora é moda chamar de ‘parque temático’, tem um passado muito rico, seja a nível cultural como paisagístico.

Uma casa centenária onde se pode conhecer mobílias coloniais; uma destilaria de medronho, onde o podemos também provar; recordar artes e ofícios já antigos; ruinas; animais da quinta…

Espero que sobreviva às chamas.

A cerâmica de Bongard, é também uma amostra da arte que pode ficar em cinzas.

Sobre a ribeira de Odiáxere foi construída uma barragem em arco, a barragem da Bravura.

Sim, pensamos, aqui o fogo não poderá destruir o betão.

Mas tudo o que a rodeia terá ‘bravura’ para resistir?

A paisagem é, mais uma vez, lindíssima. Um oásis… no meio de eucaliptos.

Percursos pedestres, paisagens, biodiversidade, habitações, vidas, tudo se perde neste inferno.

Para ganho de quem?

Ok, eu disse que não ia falar das ‘culpas’. Mas é revoltante ver aquele inferno a arder já há tantos dias.

Como podemos este ano, após tudo o que se falou sobre prevenção e evitar novas tragédias, ter um incêndio destas proporções?!

O que falta?

Se era uma zona de risco referenciada, porque não a protegeram?

Ou as listas de ‘zonas de risco’ servem apenas de menu para os incendiários?

Esqueçam, a culpa deve ser, obviamente, e mais uma vez, das terríveis ‘condições climatéricas’, da insolente ‘vegetação’ que não pára de crescer, dos eucaliptos que se multiplicam sozinhos, e do diabo da serra que tem ‘maus acessos’

…Mas não há ninguém que acabe com isto??!!

 

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