De que está à procura ?

Colunistas

Baba e ranho por 60 cêntimos

Conheci há dias um velho sábio, de noventa e três anos. Verdade: sabido.
Mais que o que a sua longa vida o terá ensinado, a sua inteligência terá aproveitado. Um senhor muito lúcido, sem qualquer entrave e com escorreita actividade mental.
O velho senhor confidenciou-me que todas as noites, às quatro ou cinco da manhã, acorda para ver os programas que nas três televisões portuguesas a execrável, nojenta, motivo de vómito e mal estar, que chego eu a sentir vergonha, quase como se fosse eu a fazer aquele estapafúrdio!
Não é à toa que acentuo os predicados do velho senhor. Uma pessoa com instrução.
Um dia disse-me que já “tinha comprado todos os produtos publicitados. Que apenas lhe faltava (à data, hoje não sei) comprar uns chinelos”.
Claro que gostaria fazê-lo ouvir-me alegar os contras daquele embuste. A sua vetusta e muito, muito respeitosa idade, não me deixou ir além do ensaio. Acho que deveriam ser os filhos do velho senhor a dizer-lhe. Se os conhecesse era capaz de lhes dizer que explicassem ao velho pai que aquilo é um grande, grande embuste, uma grande burla, que se dirige especialmente ao mais idosos e menos informados. Gente cujo dinheiro não lhe chegará para o seu dia-a-dia corrente.
Se este senhor que ainda goza de saúde, inteligente e escorreito cai naquela alapara, imagine-se quão dos nossos velhos ou desvalidos, que muitas vezes não têm alternativa à televisão serão abocanhados por aquele sistema doentio de roubar o povo. Os mais carenciados.
Os apelos que fazem são de fazer chorar as pedras da calçada. “Com o dinheiro podem comprar tudo”. “Ir, por exemplo à Austrália visitar um filho, ‘um familiar’ que não vê há muito”. “Isso não pode ser?! Pague-lhe com o cartão a viagem para os receber”,
A família tem ali muito apelo.
Os apelos são lancinantes. Escabrosos. Vergonhosos, Abutres. E doem.
Buscam e rebuscam cada argumento que é difícil de repetir, até porque são tantos.
Há muito se sabia que este tipo de concursos é um embuste. Não tem pés nem cabeça. Não é preciso ter passado por Coimbra para saber isso. Mas coisas destas só são permitidas neste portugalzinho à beira-mar-mal-plantado.
Seria, e por mero exemplo, mais curial anunciar que A CHAMADA NÚMERO TAL VAI SER A PREMIADA!
Não daria para tantas manobras de fraude, de engano, de embuste. A regra era mais clara e, genericamente, qualquer canal não tinha a possibilidade de fazer, por exemplo, um “jogo em linha” sem aldrabar consoante o participante do concurso for ditando a sua sorte (dizer os números que prefere).
Recorrendo à memória, muitos leitores ainda recordarão: O JOGO DA MALA. Um programa de rádio conduzido pelo conhecido radialista António Sala. Antes dizia: vamos ligar para o número Y. Se do número Y não atendesse, paciência.
Mas aqui não resulta a paciência. Resulta da chamada de “00,60€ mais IVA”.
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA