De que está à procura ?

Colunistas

Aumentos à bruta e à portuguesa

Já muita tinta correu e rios de saliva foram gastos em torno do tema do aumento do preço dos combustíveis. Por isso prometo que não irei falar sobre este assunto. O que me traz aqui hoje é algo bem mais preocupante do que o simples aumento do preço dos combustíveis. Isso já pertence ao passado! O que interessa realmente discutir neste momento é o brutal aumento do preço dos combustíveis.

Nos últimos tempos, muitos adjectivos menos simpáticos têm sido dirigidos pelos consumidores às grandes gasolineiras: especulativas, exploradoras, gatunas e “_________” (este espaço em branco é para o leitor preencher com um qualificativo de sua própria autoria, para que este artigo fique também com o seu cunho pessoal). E que dizer do governo que prometeu baixar o valor dos impostos sobre os combustíveis quando o preço do petróleo subisse por aí acima e que agora assobia para o lado como se nada fosse com ele? Um grande dedo espetado para este executivo! O leitor que escolha qual: polegar, indicador, médio, anelar ou mínimo…

António Costa quer distância de José Sócrates mas está a seguir tal e qual as pisadas deste ex-primeiro-ministro e ex-PS no que à política fiscal de combustíveis diz respeito: Sócrates não quis cair no facilitismo de reduzir o imposto sobre combustíveis, Costa também não quer. Está claro que, quer para Sócrates, em 2008, quer agora para Costa, em 2018, isso seria facilitar em demasia a vida aos portugueses. Para Sócrates os portugueses tinham de saber o que custava a vida, tinham de saber o que era não poder comprar fatos de marca em Rodeo Drive (Beverly Hills), tinham de saber o que era viver a crédito, tinham de saber o que era ter filhos pequenos para criar e não ter dinheiro para lhes comprar um computador de jeito a não ser um Magalhães. Já para Costa os portugueses têm de saber o que é pagar a electricidade e o gás mais caros da Europa, têm de saber o que é levar em cima com bosta de vacas voadoras, têm de saber o que é um SNS que vai eutanasiando os seus utentes com listas de espera mortais e urgências tipo ‘todos ao molho e fé no médico cubano que está de serviço há 24h”, têm de saber o que é viver num país onde até o próprio INEM necessita de ser socorrido! Afinal somos homens ou somos ratos? Aqui não há facilitismos para ninguém… as facilidades são para os malandros e ratos! Acho que é por isso que só vejo facilidades por parte do governo em relação às grandes gasolineiras, pois elas lidam com tubos, canos, condutas, canalizações… habitat natural de ratos e ratazanas…

Volta e meia marcam-se acções de boicote às grandes gasolineiras, através das redes sociais. Eu duvido sempre muito das acções de protesto em que, basicamente, ficamos calados. Estamos quietinhos, sem abastecer os nossos popós, e pronto… já protestámos. Mas afinal que mariquice é esta, hein? Temos é que ir abastecer às grandes gasolineiras e no acto do pagamento, gritarmos coisas feias aos empregados que lá trabalham, tipo “O teu patrão só quer é guito, pá!”, ou ainda “O teu patrão cheira a petróleo especulado, que tresanda!”. De certeza que os mal-pagos empregados transmitiriam a nossa mensagem de protesto aos respectivos patrões e ao secretário-geral da APETRO, Engº António Comprido. Com este nome, é natural que a Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas faça lobby em prol dos preços compridos em detrimento dos curtos. Um caso a ser investigado pela Autoridade da Concorrência. Infelizmente, o anterior secretário-geral da APETRO também não foi muito feliz uma vez que chegou mesmo a chamar “ignorantes” a todas as pessoas que apoiassem os boicotes às gasolineiras, porque, segundo ele, “os preços são transparentes”… como o crude – acrescentaria eu. Perante os “ais” do crescente descontentamento popular face à subida do preço dos combustíveis, qualquer dia ainda vamos assistir a uma contra-ofensiva das gasolineiras, a mandar-nos calar a todos através de um spot publicitário protagonizado por Luís Figo a abastecer automóveis numa estação de serviço enquanto canta: “Menos ais, menos ais, menos ais” (lembra-se, estimado leitor, deste spot publicitário? Belos tempos…).

O aumento dos combustíveis começa já a atingir sectores vitais do funcionamento da nossa sociedade como as corporações de bombeiros, as quais começam a enfrentar sérias dificuldades em virtude da escalada galopante do preço do gasóleo. Corremos, assim, sérios riscos de começar a ver ambulâncias paradas no meio das estradas com as luzes de emergência ligadas, não por causa de algum acidente, mas simplesmente por falta de combustível. E como é que os autotanques vão apagar os incêndios? Ah, é verdade, ao preço a que os combustíveis estão, este ano dificilmente haverá incêndios, pois os potenciais incendiários não vão ter dinheiro para comprar o combustível necessário para atear os fogos à floresta portuguesa. Como se vê, nem tudo é mau com a alta dos combustíveis. Outra consequência boazinha, em termos morais,desta alta vai ser a diminuição das “escapadelas” extra-conjugais com as amantes (ou com os amantes) na medida em há que fazer opções: ou passear com a família ao domingo (sogra e cão incluídos) ou com a/o amante ao sábado à noite. É que o ordenado não estica…

Neste cenário de crise, resta-nos sonhar, sonhar, sonhar. O meu maior sonho era ser uma espécie de combustível, porque também eu gostava de ser aumentado à bruta. Quem não gostava? Já imaginaram se, embora mantendo o nosso índice de produtividade, a especulação financeira selvagem dos mercados (liderada pelo mercado do Bulhão, logo seguido de perto pelo mercado de Olhão) fizesse aumentar o valor do nosso trabalho? Veríamos o nosso ordenado aumentar quase todos os dias. Era só facturar.

Finalizo este artigo com alguns conselhos práticos para reduzir a sua factura do combustível: 1- Emigre para a Venezuela, onde a gasolina sem chumbo é vendida a 4 cêntimos/litro; 2- Troque o seu carro por um tractor agrícola, para poder usufruir de um desconto de, aproximadamente, 40 cêntimos/litro no gasóleo verde (aproveite e dedique-se também à agricultura, pois o preço dos alimentos essenciais também tem vindo a aumentar à bruta); 3- Arranje um emprego, como gestor, numa gasolineira de reconhecido mérito; Último conselho: Quer mesmo ter combustíveis a custo zero? Então candidate-se já a um alto cargo público e ganhe dinheiro à bruta(com ajudas de custo ao combustível incluídas)!

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA