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Atentados de Londres: Enfermeiro português salva jovem esfaqueada

Carlos Pinto (à esquerda) e amigo

Carlos Pinto, um enfermeiro português a trabalhar em Londres, prestou os primeiros socorros a uma jovem que foi esfaqueada por um dos terroristas que mataram sete pessoas e feriram cerca de 50, sábado à noite na Capital inglesa.

Natural de Constantim, Vila Real, Carlos esteve a cerca de um metro e meio da faca de um dos três atacantes de Londres. Um homem “de pele escura, barba negra” especado à entrada do restaurante no mercado de Borough, a impedir a saída dos clientes e a gritar. “Só me lembro de ver a boca dele a mexer muito”, recordou Carlos Pinto, em declarações ao “Jornal de Notícias”.

As pessoas começaram a tentar fugir e foi quando a jovem, que terá “17 ou 18 anos”, foi esfaqueada no peito. Seguiram-se momentos de pânico no restaurante, mas a reação dos clientes evitou uma tragédia de proporções maiores. “As pessoas começaram a atirar cadeiras e copos ao atacante, que recuou um ou dois metros. O restaurante conseguiu fechar o portão e ficamos completamente isolados do exterior”, recordou.

“Ouvi bater no portão e ouvi tiros, mas não sei explicar muito bem porquê, porque nessa altura estava a ajudar a rapariga que tinha sido esfaqueada e não a larguei mais até chegar a ambulância”. A jovem, cuja evolução do estado de saúde Carlos ainda não conseguiu perceber, ficou em boas mãos, aos cuidados de dois dos milhares de enfermeiros portugueses que nos últimos anos emigraram para o Reino Unido.

“Tinha uma ferida profunda no tórax e perdeu cerca de meio litro de sangue”, conta Carlos Pinto. “Pedimos gelo e toalhas para fazer compressas e tentar estancar a hemorragia. A ferida era muito grande e usamos fita-cola castanha, daquela de colar caixas, para conseguir juntar a pele”, recordou. O tradicional desenrasque de Carlos e de uma amiga que não quis ser identificada foi complementado com a caixa de primeiros socorros do restaurante, que tinha algum material mais para ajudar a manter a jovem viva.

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“Só fomos resgatados quase duas horas depois do ataque. Não percebo se demoraram porque sabiam que estavam enfermeiros com a rapariga ou se havia gente em pior estado e a precisar de mais ajuda”, desabafou Carlos Pinto. “No final, ela estava muito fraca e respirava com dificuldade. Não sei se a faca não terá furado o pulmão”, acrescentou. “A faca era muito grande. Não percebi bem se era vermelha ou se já vinha cheia de sangue da rua”, contou.

Depois de saíram “do epicentro” do ataque, Carlos e os três amigos alugaram uma carrinha-táxi e andaram horas a levar pessoas que tinham fugido do restaurante sem dinheiro e bens pessoais. “Tinham perdido tudo no restaurante”, explicou. “Fizemos aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós”, acrescentou. A conta chegou às 180 libras, cerca de 200 euros, quantia que não pensam em reaver, apesar de um dos funcionários do restaurante que ajudaram dizer para passarem lá um dia. “Foi dinheiro para as alminhas”, desabafou.

Chegou a casa por volta das três da manhã. “Felizmente sou enfermeiro, tenho medicamentos em casa para ajudar a descansar, mas mesmo assim não dormi mais de três ou quatro horas”, disse.

Apesar da noite mal dormida saiu à rua, este domingo, para tomar café e enfrentar os demónios. “Não vou deixar Londres nem mudar a minha vida por causa disto”, disse Carlos Pinto.

Augusto Correia e Carlos Vieira, Jornal de Notícias

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