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As pedras da calçada

Quando, por altura da Páscoa, me encontrava a confessar, tendo a conversa passado pelas dificuldades que por vezes encontramos na nossa vida e que nos são tão difíceis de ultrapassar, o meu confessor confessou-me que costuma dar uma prenda muito especial a todos os noivos a quem celebra o seu matrimónio. Essa prenda é, nada mais, nada menos, do que duas pedras da calçada. Sim, é mesmo isso que estão a pensar, o padre oferece aos noivos dois paralelos. Os ditos calhaus seguem dentro de uma caixa com um laço cor de rosa a ornamentar! Tudo como deve ser feito! Depois de garantir que os nubentes, que passaram a esposos, recebem a oferenda, o padre refere o que deve ser feito com elas. Segundo ele, mal eles saiam da igreja, ao passarem pelo rio mais próximo, devem atirar as duas pedras para o fundo do rio. Então, deixam passar uns valentes anos e devem dirigir-se à foz desse mesmo rio recolher os dois seixos em que os paralelos se transformaram.

Confesso, como já confessei ao meu confessor, que adorei esta metáfora da vida. Diz-nos muito do que se passa nos nossos dias e, se deixarmos, confere um enorme sentido aos altos e baixos das nossas vivências. Podemos começar a nossa vida, neste caso a nossa vida matrimonial, como dois objetos imperfeitos, grosseiros, mas prontos a sermos lapidados. Serão as alegrias, os momentos bons da nossa vida, mas também as decisões que tomarmos, as agruras por que eventualmente teremos de passar e as batalhas que travarmos que nos vão moldar. É o conjunto desses acontecimentos que nos vai aos poucos transformar. Se quisermos, podemos olhar para esta metáfora da perspetiva da vida a dois, em que de vez em quando vamos chocando, vamo-nos lapidando e, ao mesmo tempo, vamo-nos construindo aos dois. Vamos mudando o que nos prende e vamos valorizando o que temos de bom.

Se houver predisposição para tal, se deixarmos que isso aconteça, seremos, no final das nossas vidas dois seixos lisos e harmoniosos.

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