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As 4 décadas de fotografia de Pierre et Gilles

Nós adoramos idealizar, mas falamos também da morte, do mistério e do absurdo da vida. Há tanto de doçura quanto de violência nas nossas imagens.” Assim o afirmam Pierre et Gilles.

Nos últimos 40 anos, Pierre et Gilles impuseram a sua estética visual única. Os seus elaborados e coloridos retratos transportam-nos para um mundo de sonho e fantasia, que combina a cultura Pop, o burlesco e o erotismo. Esta dupla de artistas inspira-se nas imagens religiosas, no cinema de Bollywood, no mundo da infância e na iconografia gay. Eles também incutiram a sua própria marca na cultura popular, criando capas de discos para algumas estrelas Pop dos anos 80, incluindo Boy George, Nina Hagen e Étienne Daho.

Dentro de um registo algo naïve, algo kitsch, a fotografia dos artistas franceses Gilles Blanchard (pintor) e Pierre Commoy (fotógrafo), através principalmente da sua relação com a cultura Pop e o entrelaçamento desta com imagens da arte europeia e da cultura de massas, permeada por uma adesão à estética soft porno, aos ícones do catolicismo, ao mundo da publicidade e de objetos kitsch, criou um fantástico e muito próprio grupo de obras. Além de formarem um casal, criaram uma parceria artística unindo os seus métiers – fotografia e pintura. Os dois conheceram-se em Paris em 1976 e desde então não mais pararam de produzir imagens intrigantes e divertidas.

A técnica que utilizam é a da colagem, do printing, da interferência da pintura na fotografia. Segundo os artistas, eles gostam de misturar numa única obra “todas as cores, não só as da moda, mas cores da arte, da cultura popular. Somos mais visuais do que literários, mas adoramos misturar as coisas, como vários sabores diferentes numa cozinha”.

Além de fotografarem ícones da cultura contemporânea como Madonna, Jean Paul Gautier, Catherine Deneuve, Naomi Campbell, Marilyn Manson entre outros, a dupla investe na iconologia gay de uma forma bastante interessante. O retrato é um exemplo de como Pierre Commoy e Gilles Blanchard construíram uma carreira conjunta forçando os limites, numa provocação constante, mas que eles dizem ser um pouco inconsciente. Parceiros no trabalho e também na vida, a dupla começou a fazer retratos homoeróticos pintados à mão há já quatro décadas.

Nas suas obras, vemos imagens trabalhadas como cenários cuidadosamente compostos e com cores sumptuosas, no que se pode chamar de movimento da fotografia plástica, que quer trazer para a fotografia o valor que tinham, antigamente, os quadros. Há também, nas imagens criadas, algo de industrial, como se a pele fosse algumas vezes plástica e outras vezes metalizada, contendo ainda o corpo submetido a uma luz sublime, espiritualizada. Ambíguas por excelência, unem ao prazer a dor, à alegria o espanto, ao nonsense a tragédia.

Nós fazemos isso naturalmente. É algo que pode perturbar, mas os artistas são feitos para isso mesmo. Achocalhar as coisas para provocar reflexão nas pessoas”, argumenta Gilles, o mais expressivo do duo.

Numa França dividida pela lei do casamento gay, Pierre et Gilles provocaram e muito com um autorretrato colocado na capa do jornal Libération. Corria o ano de 2013, altura em que a França legalizou o casamento gay. A dupla chamou a atenção com a imagem que mostrava os dois recém-casados por baixo de uma fotografia do presidente francês François Hollande, sorridente, na capa do jornal de esquerda francês. Agora um verdadeiro item de colecionador, o autorretrato foi visto como tentativa irónica de aliviar o furioso debate a respeito do casamento gay em França, que levou milhares de opositores e apoiantes às ruas.

“O debate ficou tão sério, incómodo e perturbador que sentimos a necessidade de quebrar essa atmosfera pesada. Trazer [a discussão] para um clima mais bem-humorado e divertido”, explica Gilles. “Noutros países, como Inglaterra, [o casamento gay] foi aprovado mais rapidamente e de forma simples. Isso chocou-me e surpreendeu-me. E tal significa alguma coisa, significa que algo escondido dentro das pessoas saiu. É por isso que temos que ser ainda mais radicais”, completa o fotógrafo.
Pierre et Gilles encontraram maior fama nos Estados Unidos com uma grande retrospetiva, numa galeria de Nova Iorque, em 2000. Doze anos depois, em 2012, o nível de notoriedade subiu ainda mais com a exposição internacional “Vive la France”. Aqui, uma foto homoerótica mostrava três jogadores de futebol nus – um negro, um árabe e um branco – representando a diversidade social francesa e fazendo uma alusão a bandeira tricolor do país. O cartaz da mostra causou clamor na conservadora Áustria e os genitais dos jogadores chegaram a ser cobertos em alguns lugares de Viena. Especulando sobre o motivo de tal clamor, Gilles lembra que as pessoas até costumam ser bastante abertas em relação à nudez em Viena: “Se tivesse sido um homem loiro nu ao lado de uma bela jovem, com céu azul ao fundo, talvez não tivesse havido problema”, ironiza o fotógrafo.

Curiosamente, Pierre et Gilles são bastante introvertidos e raramente dão entrevistas, contrastando com a natureza explicita das suas obras. Mas tal paradoxo encaixa-se perfeitamente na arte de fotógrafos que gostam da força intrínseca da contradição.
Atualmente, os retratos de estrelas como Kylie Minogue, Mick Jagger ou Conchita Wurst assumem a mesma importância das representações que a dupla faz de estrelas do porno gay nuas e em fantásticas cenas. Ambos os tipos de imagem compõem os livros de arte que decoram mesas de centro em casas nos mais diversos cantos do mundo.

Pierre et Gilles

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Madonna

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Nina Hagen

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Marc Jacobs

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Conchita Wurst

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Boy George

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Marilyn Manson e Dita von Teese

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Naomi Campbell

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Paloma Picasso

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Kylie Minogue

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Marc Almond

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Laetitia Casta

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Isabelle Huppert

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Outros

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Rei Salomão

 

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… e o famoso poster:

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