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Angola: uma Bíblia bilingue português-luchazi

Manuel Lopes, antigo militar português na guerra em Angola, encontrou uma Bíblia bilingue numa base da UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola, em 1968, e decidiu que é tempo de devolvê-la ao país de origem.

“Parecia vislumbrar a esperança da reconciliação futura dos ex-combatentes, de ambos os lados. Naquela base encontrava afinal mais fatores de eventual aproximação que de conflito”, disse Manuel Lopes à Agência ECCLESIA.

O antigo militar português confessou que foi uma “grande surpresa” encontrar uma Bíblia na base da UNITA, dado que estava longe de imaginar que alguém ali tivesse “uma formação religiosa de origem cristã”.

“Parecia estarmos divididos pela política, mas unidos pela religião”, realça, em declarações proferidas no contexto do Dia Mundial do Livro, que se assinala hoje.

Manuel Lopes nunca considerou o livro sagrado um despojo de guerra, “no sentido lato da expressão”, mas “algo precioso” que foi entregue pelo “destino para devidamente preservar”.

Para o entrevistado, o achado “não só alertava para as raízes culturais comuns” aos combatentes como poderia ser um “veículo de aproximação e reconciliação depois de silenciadas as armas”.

A ‘Bíblia Mbimbilya’ é bilingue – em português e luchazi – editada pelo Deposito das Escrituras Sagradas e o antigo combatente descobriu em 2016 que era de origem protestante, segundo informações de um frade Capuchinho, em Barcelos, porque “não tinha aditamentos ou explicações aos textos sagrados, dando a cada crente a maior liberdade de interpretação”.

A Bíblia tem estado presente nos últimos convívios anuais de ex-combatentes e na Eucaristia, por intenção dos ex-militares falecidos.

Foi em 2016 que Manuel Lopes decidiu fazer “novo esforço” para localizar o “legítimo dono” da Bíblia ‘Mbimbilya’, que acabou por não ter resultados, levando a outra decisão: o livro sagrado vai regressar este ano a Angola através do padre Augusto Tchimbali, natural de Menongue, Cuando Cubango.

“Sempre senti que a Bíblia, Mbimbilya não me pertencia. Fui o seu depositário durante quase 50 anos. Mantê-la comigo era violentar o significado libertador que sempre tinha tido e transformá-la em despojo de guerra”, desenvolveu.

Para Manuel Lopes o regresso do livro sagrado às origens é um “reencontro” com a “esperança no futuro” que mesmo em tempo de guerra “estava presente em ambos os lados da barricada”.

O antigo militar contextualizou que encontrou a Bíblia bilingue durante a Operação Buraco, em 1968, uma designação devido ao aparecimento de “enormes buracos cuidadosamente camuflados por ramos de árvores e terra” nas picadas entre a coutada do Mucusso e o Posto do Dirico, no Distrito do Cuando Cubango.

Depois dos militares portugueses terem tomado de assalto a base conjunta da UNITA e da SWAPO, na “volumosa documentação” a atenção de Manuel Lopes centrou-se no “enorme livro de capas pretas” em letras douradas.

“Sempre senti que a religião tinha um papel especial a desempenhar nos esforços de sublimação em tempo de paz, em especial no apoio aos ex-combatentes, reforçando-lhes o nível de confiança no futuro”, conclui.

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