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WWF pede que Portugal e Espanha se juntem na prevenção dos fogos

A organização internacional de conservação da natureza WWF pediu esta quinta-feira uma atuação concertada entre Portugal e Espanha na aplicação de uma estratégia para enfrentar os grandes incêndios florestais, considerando o noroeste ibérico “um barril de pólvora”.

Num relatório com o título “O barril de pólvora do noroeste”, apresentado hoje em simultâneo em Lisboa e em Madrid, a WWF desafia os governos ibéricos a concretizarem uma “estratégia capaz de tornar o território menos inflamável, acabar com a impunidade de quem causa incêndios e combater as alterações climáticas”.

A resposta para o novo cenário resultante do abandono das terras do interior e das alterações climáticas “não é fazer mais investimento em dispositivos de extinção. Esta receita tornou-se obsoleta e deixou de funcionar”, defendem os ambientalistas.

O problema dos grandes incêndios, acrescentam, deve ser tratado de forma coordenada, com a revitalização do território através de políticas de desenvolvimento das áreas rurais que fixem a população, criando emprego, e com o objetivo de obter florestas e paisagens mais resistentes às alterações climáticas e ao fogo.

“Se não forem tomadas medidas urgentes, as alterações climáticas e as consequências do abandono rural condenam-nos a um futuro cada vez mais negro: ocorrência de grandes incêndios em simultâneo, impossíveis de combater e que geram autênticas crises nacionais”, alerta a WWF.

A organização avança com um conjunto de medidas, a partir da constatação de que os dois países enfrentam a mesma emergência relativamente a grandes incêndios florestais que, muitas vezes, ocorrem fora das épocas habituais e apresentam um comportamento volátil.

O plano de ação proposto pela WWF, coordenado entre Portugal e Espanha e alargado às entidades regionais, começa com o ordenamento do território e as alterações climáticas.

Um dos pontos definidos é a identificação, caracterização e mapeamento das áreas de alto risco de incêndio, com as entidades responsáveis a promover a gestão coletiva do território, procurando diversificar usos.

“Agora, cada pessoa decide individualmente o que faz na sua parcela, sem considerar o risco coletivo. Um planeamento conjunto, que garanta rentabilidade a todos os proprietários, é a única maneira de se obter uma paisagem em mosaico mais diversificada, heterogénea e resistente às chamas, onde os usos florestais, agrícolas e silvícolas são compatíveis”, explica a WWF.

As entidades administrativas, refere, devem ter informação acerca dos locais onde há plantações florestais, “fundamentalmente as de eucalipto e pinheiro”, em que estado estão, qual a gestão e cargas de combustível, e quem são os proprietários, não deixando de delimitar a área para cultivo intensivo daquelas espécies e de intervir nos povoamentos abandonados.

A estratégia ibérica deve promover um programa específico que incentive e compense os proprietários que apostam em plantações de folhosas como castanheiros, carvalhos, nogueiras ou cerejeiras, menos rentáveis a curto prazo, mas que a médio e longo prazo podem obter melhores resultados.

Para a organização, a população deve assumir a responsabilidade que acarreta viver na floresta e cumprir os regulamentos que exigem planos para proteger bens, mas também para reduzir a possível propagação de fogo a outras propriedades, e saber agir em caso de incêndio já que “a experiência demonstra que a improvisação piora a situação e traz mais perigos”.

O relatório aponta que as autoridades nacionais e regionais dos dois países devem aumentar os esforços na investigação sobre as causas e motivações nos incêndios para adaptar as soluções.

Devem também melhorar “a eficiência na identificação dos perpetradores, bem como na aplicação efetiva e exemplar de sanções e sentenças para dissuadir os que estão por trás dos incêndios e acabar com a sensação de impunidade atual”.

O relatório lembra que, para que haja um incêndio, têm de verificar-se três situações: alguém inicia um fogo (em média, apenas 4% dos acidentes ocorridos em Espanha são produzidos por causas naturais, e apenas 2% em Portugal), o território tem de ser inflamável e as condições meteorológicas favoráveis à propagação das chamas.

Em 2017, registaram-se grandes incêndios no norte de Portugal e de Espanha (Galiza e Astúrias), que causaram mais de 100 mortos e centenas de milhares de hectares de área ardida, além da destruição de casas e estruturas empresariais.

Não foi só a Península Ibérica que ardeu e os incêndios florestais foram também graves nos EUA (Califórnia), Chile, Espanha, Canadá e Austrália o que leva a WWF a referir que os fogos deixaram de ser um problema apenas florestal ou rural para se tornarem uma verdadeira emergência social.

Em Espanha, quase 65% dos incêndios ocorrem no noroeste peninsular e só na Galiza, que representa 50% do total dos incêndios, ocorrem 6.000 ignições por ano. Em Portugal, em 2017, dos 16.981 pedidos de auxílio registados até 31 de outubro, 94% ocorreram a norte do Tejo.

A novidade daqueles fogos foi que estes ocorreram no final de junho e em meados de outubro, fora da época que era considerada normalmente como de alto risco, tiveram “um comportamento explosivo e extremo” e propagaram-se a grandes velocidades.

“O mundo está a enfrentar uma nova geração de incêndios, em parte ligados às alterações climáticas”, aponta a WWF.

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