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Sombras e lagos procuram-se em Berlim para resistir a onda de calor

Para conseguir lugar numa espreguiçadeira ou para estender a toalha num quadrado de areia é preciso chegar cedo ao “badeschiff”, um antigo barco transformado em piscina, mesmo em cima do rio Spree, em Berlim, sinal de verão anormalmente quente.

As temperaturas máximas, um pouco por toda a Alemanha, superam os 30 graus e, de acordo com as previsões, vão continuar assim na próxima semana.

Há fila para entrar, fila para arranjar sítio e até fila para mergulhar. “Há que aguentar e esperar, sem desesperar”, confessa Noah Gefen que chegou o mais cedo que conseguiu à conhecida piscina no bairro de Kreuzberg.

“É a melhor maneira de aguentar um dia de calor”, confessa o norte-americano que ainda tem uma tarde de trabalho pela frente. São tantas as pessoas que entre elas “nem cabe um patinho de borracha”, brinca.

Mas os termómetros não estão para brincadeiras, “estamos a ser atingidos por uma onda de calor”, explica o meteorologista Dominik Jung, “nos próximos 7 dias não haverá qualquer alteração, teremos temperaturas entre os 30 e os 35 graus e por vezes mais altas. Também vamos continuar sem chuva”.

Micaela Chavez, a viver em Berlim há mais de quatro décadas, admite que até está habituada ao calor, “mas aqui o calor é diferente, há calor de dia e de noite e isso é muito desagradável”.

A educadora infantil, que trocou o Peru pela Alemanha com 20 anos, acredita que “este tempo não é natural, não é normal. As mudanças climáticas aqui estão a sentir-se de forma perigosa. Há incêndios, coisa que acontece nos países do sul da Europa mas não na Alemanha. As pessoas não estão preparadas para isso”.

As autoridades alertam para o risco significativo de incêndios em campos e florestas no norte e leste do país. Em Potsdam, não muito longe da capital, um fogo devorou cerca de 60 hectares de um bosque na quinta-feira, no que já foi considerado o dia mais quente do ano.

Por causa dos danos no asfalto provocados pelo calor, em várias estradas alemãs foram impostos limites de velocidade temporários. De acordo com a Deutsche Welle, a subida da temperatura na água dos lagos está a causar um aumento da proliferação de algas e bactérias nocivas à saúde.

Mas os lagos são mesmo o refúgio de muitos habitantes de Berlim, como é o caso de Sabrina Luna, brasileira a viver há mais de dois anos na capital: “quase não há sol aqui, acho que veio todo o sol do ano de uma vez só, mas os lugares não têm estrutura para este calor. A alternativa é procurar uma sombra ou um lago e viver a vida”.

Também Ana Rita da Costa recorre a essa alternativa durante o fim de semana, nos dias de trabalho é mais difícil suportar o calor, “não há ar condicionado em quase lado nenhum, é muito calor para poder trabalhar e estar concentrada”.

O escritório desta portuguesa fica num prédio antigo, bem no centro da cidade. Em frente há uma fonte que serve para ir refrescando os pés dos que por lá passam. “No meu trabalho temos um dress-code formal, agora a chefia já disse que não é necessário, o tempo que está lá fora é o que está dentro do edifício”, confessa.

Felix Kleinsorge conta as horas de sono que não dormiu por causa do calor, “vivo num apartamento num andar muito elevado, o calor é imenso e o ar está muito seco”.

Por causa das temperaturas altas este alemão, de 23 anos, mudou-se temporariamente para casa dos pais, nos arredores de Berlim. “Costumo passar férias em Espanha ou em Portugal por causa do calor mas este ano não preciso”, confessa entre risos, “o problema é que a cidade não está preparada para isto, andar de transportes públicos, por exemplo, é um autêntico inferno.”

Mas Manuela Hinze, professora de alemão, vê-se obrigada a usá-los todos os dias. “Temperaturas até 30 graus ainda consigo suportar, mas acima disso acaba por condicionar todo o meu dia”, sublinha a berlinense que usa o metro diariamente. “Só consigo dormir com uma ventoinha ligada toda a noite, não consigo praticar desporto, nem fazer as tarefas de casa”, e tomar banho num lago “só ao fim de semana”.

Lagos e sombras procuram-se, mas também mais água e cerveja. O dono do minimercado ao lado do parque Gleisdreieck, um dos maiores da cidade, garante que as vendas subiram e algumas marcas estão esgotadas.

Dominik Jung, meteorologista do portal wetter.net explica que “depois das altas temperaturas no Verão de 2003, alguns peritos acreditavam que, a partir daí, os verões iam começar a ser mais quentes e secos. Enganaram-se.” Por isso acredita que é impossível prever como será o próximo ano, ou o seguinte, “só os termómetros o dirão”.

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