Tem palavras de sete e quinhentos
fala do peixe da horta e das pianolas
de homens que nasceram intempestivos
de tíbias perónios famílias em salões
bebendo tinto e chá de tília.
A poesia clássica diz ao mordomo,
não meu amigo. Não era ali que estava
é noutra gaveta. Noutra arrecadação,
mas dentro de mim o poema apertava.
De palavras pouco sei. Mas eu tento
desvendar-lhe o segredo e movimento
se a poesia è gorda ou magra não interessa
não importa. Mas tem que ser clássica
cheirar a Camões a Camilo ora essa.
A poesia clássica rejeita a esmola
a miséria dourada das pessoas sem tecto,
ama a carne da palavra e pastosa consistência
clama luxúria, prepúcio, e erecta presença,
violentando os versos de vinte e cinco tostões.
Com palavras altissonantes e seios de cimento
a poesia clássica que eu não sei, só invento
e tento criar um poema de sangue, fogo e ferro
com matéria bruta que luta e que lavra
expressões de concreto e consistência.
A poesia clássica veste gravata florida
numa camisa branca mal suada.
Grita no parlamento. Outra vez, que chatice,
este doutor não é uma besta nem rumina,
tem um estômago saliente que só engorda
alargando os furos do cinto e dos recursos
que se esgotam, olhando o país de revés
não é aí meu amigo, é noutra legislatura.
Talvez no Além-tejo. Não importa, eu sou burguês.
A poesia clássica que invento vai dar ao Mondego,
tem cabelos verdes que parecem choupais
gritando, Inês! Inês! Rainha sem sossego
morta tão cedo por amar demais.
E eu tento a punho escrever e domar
Um poema bravio e quase clássico.