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A ligação entre turismo e religião

O turismo é a indústria da paz” disse o presidente da Entidade Regional do Turismo do Centro de Portugal, no debate Peregrinos e Turistas, em diálogo na construção de Cidadania, realizado esta terça-feira, 23 de maio, na Biblioteca Municipal de Tomar, com seis oradores ligados à área do turismo e ao pensamento religioso. Para Pedro Machado, “todo o ato turístico é um ato cultural”.

Embora, mesmo no âmbito do turismo religioso, “nem todos os turistas sejam motivados por razões religiosas”, há um contexto cultural transversal, acrescentou o padre Carlos Godinho, responsável pela Pastoral do Turismo da Igreja católica em Portugal, para quem o turismo “é chamado a ser factor de primeira importância” para um mundo aberto ao diálogo e ao conhecimento do outro, pois “todos os peregrinos são turistas”.

A presidente da Câmara de Tomar, Anabela Freitas, enalteceu a iniciativa, que pretende trazer a Religião ao debate sobre a Cidadania e realçou que, “para nos formarmos enquanto cidadãos, temos de sair do nosso espaço de conforto” e “sair em peregrinação permite essa formação enquanto cidadãos”.

António Caria Mendes, da Associação de Amizade Portugal-Israel referiu a história de convivência religiosa em Tomar, lembrando que os muitos judeus que visitam a cidade templária o fazem pelos judeus que ali viveram, e que dali saem “com mais energia porque estiveram, por via da memória, com os seus”. Caria Mendes propõe “que Tomar seja a capital do judaísmo em Portugal”, porque ali passou “a nata do judaísmo português”.

A proximidade a Fátima foi relembrada como factor de atratividade turística na região. O turismo religioso faz parte do plano estratégico nacional para o turismo e, sublinhou Pedro Machado, assume-se autonomamente, ultrapassando já, nalgumas dimensões, “outros produtos turísticos estratégicos mais maduros”.

O padre Carlos Godinho abordou a possibilidade de abertura do santuário de Fátima e de outros locais de destino religioso, porque os “espaços do sagrado podem ser portas, por via do turismo, para o diálogo entre culturas e religiões”. O sacerdote deu exemplo de um muçulmano que no dia 13 de Maio esteve em Fátima e desceu o recinto de joelhos, “não por razões religiosas, mas para pedir mais diálogo entre católicos e muçulmanos”.

Joaquim Franco, coordenador do Observatório para Liberdade Religiosa e moderador do debate, salientou “o respeito que os turistas preservam quando visitam espaços de diferentes culturas religiosas”, podendo esta atitude ser também “fator pedagógico para a liberdade religiosa, promovendo o respeito entre diferentes religiões e culturas”.

A capacidade de a experiência religiosa mais popular recriar pólos e fenómenos de interesse turístico foi abordada pelo economista João Serrano, da Confraria Ibérica do Tejo e um dos responsáveis pelo surgimento, no dealbar do século XXI, de um novo roteiro de devoção mariana com uma imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo. Foi um caso, explicou, em que “a academia saiu dos gabinetes e foi às comunidades para perceber o que elas precisavam”, tendo, na sequência deste estudo, “nascido um projeto para refazer laços identitários e congregar populações através da religiosidade, nomeadamente da devoção mariana.”

A imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo é representada numa escultura inédita encomendada a uma oficina do norte de Portugal por este grupo de académicos, após consulta às populações, teve a bênção dos bispos de Santarém e de Portalegre e integra-se já em novas festas religiosas. O crescente interesse das comunidades piscatórias do Tejo – os avieiros – pela nova expressão da devoção mariana, que recupera a tradição dos antepassados de Vieira de Leira, deve-se também à organização anual de um “cruzeiro religioso” – uma espécie de procissão fluvial – de Vila Velha de Ródão a Oeiras, que junta cada vez mais gente na passagem ou na paragem da imagem pelas comunidades ribeirinhas, durante a descida do rio a bordo de uma embarcação tradicional.

João Serrano revelou que está a “desenvolver-se já uma dinâmica turística de dimensão ibérica”, a partir desta experiência.

Rui Lomelino de Freitas, professor de História das Ideias, referiu que o turismo “busca um encontro com ideias e promove a convivência”, mas “falta oferta no turismo religioso sobre a perspectiva das ideias agregadas aos locais” e, muitas vezes, “o turista é introduzido nos mitos sem ter a possibilidade de acesso “ao rigor da história”. Estimula-se “o imaginário do turista em locais históricos religiosos, mas faltam as ideias e as fontes para conhecer adequadamente os locais e a história”, explicou Rui Freitas, dando o exemplo dos turistas que visitam aquela que é conhecida como a cidade templária, defendendo um trabalho académico neste sentido, pois “há um novo turismo com fome de rigor histórico”.

Nas conclusões, o responsável da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona realçou o potencial da memória de Tomar, que acolheu o debate. Paulo Mendes Pinto lembrou que um turista, seja ou não peregrino, “é um viajante” que procura a “novidade” e sugeriu Tomar – no eixo do turismo do centro de Portugal e tendo como vizinho o santuário de Fátima – como cidade de acolhimento a novas abordagens ao diálogo entre religiões no âmbito do turismo. Proposta imediatamente acolhida pela autarca.

Este debate integrou o Roteiro para o Diálogo Inter-Religioso e Cultural, promovido pela área de Ciência das Religiões da ULHT, com o Observatório para a Liberdade Religiosa – numa iniciativa da Kaningana wa Kaningana – em vários municípios, com uma abordagem ao fenómeno religioso, reconhecendo e enquadrando a Diversidade Religiosa, promovendo o Respeito através do Conhecimento e do Diálogo. Paralelamente, investigadores em Ciência das Religiões têm ações também em escolas, junto de alunos.

No dia 18 de maio, o Roteiro para o Diálogo Inter-Religioso e Cultural passou por Évora, organizou ações em escolas e um debate no auditório da Fundação Eugénio de Almeida sobre O Mundo, um Papa e as Religiões, com a presença do padre jesuita Alberto Brito, da professora de Filosofia Fernanda Henriques, da professora de História do Islão Filomena Barros, do jornalista António Marujo e do pastor e professsor de Psicologia da Religião José Brissos-Lino.

O Roteiro para o Diálogo Inter-religioso e Cultural foi aprovado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade, e decorre paralelamente ao Roteiro Cidadania em Portugal – Parar, Pensar, Agir, promovido pela ANIMAR (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local), que tem percorrido o país com o objetivo de promover o diálogo e a partilha de experiências sobre a Cidadania e a Igualdade.

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