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Historiador aborda relações luso-inglesas no contexto da Primeira Guerra Mundial

O historiador Filipe Ribeiro de Meneses aborda, na obra “De Lisboa a La Lys”, as relações entre Portugal e Inglaterra no contexto da Grande Guerra e do envio do Corpo Expedicionário Português (CEP) para La Lys.

No cenário da I Guerra Mundial (1914-1918), o CEP fez sempre parte do esforço militar britânico na Frente Ocidental e como tal “foi constantemente avaliado pelo Alto Comando da Força Expedicionária Britânica”, afirma o historiador.

“Estas avaliações, cobrindo todos os aspetos da vida do CEP, são essenciais para entendermos a evolução da unidade desde o momento que desembarcou em Brest [em França] até 11 de novembro de 1918”, quando foi assinado o armistício, escreve o historiador, esclarecendo que estas avaliações não eram “por divertimento”, mas porque “não se podiam dar ao luxo de desdenhar a contribuição de 50.000 soldados”.

Todavia, escreve Ribeiro de Meneses, os ingleses entendiam que aos “portugueses – latinos, meridionais, católicos, turbulentos – faltavam as qualidades necessárias para fazerem face desamparados ao inimigo comum – a Alemanha”.

Filipe Ribeiro de Meneses aponta como “fundamental” a documentação britânica para escrever sobre o CEP, alertando, porém, que o seu estudo requer cautela.

“Sendo impossível escrever sobre o Corpo Expedicionário sem utilizar a documentação britânica, tem esta de ser tratada com extremos cuidado”, afirma o historiador, referindo que no início do século XX era ainda “muito forte” a “memória institucional do Exército no que dizia respeito aos portugueses”, e que remontava à campanha do general Arthur Wellington contra as tropas de Napoleão, na Península Ibérica.

“Para o Exército britânico essa campanha cristalizara a ideia do valor marcial dos portugueses – bons soldados mas maus oficiais, ideia que desde então foi repetida em várias histórias de campanha –“, o que para “o português deixara a firme vontade de nunca mais permitir tal interferência estrangeira na sua ação”.

Segundo o autor, “em 1917 assistiu-se, em parte, à tentativa britânica de recriar a situação vigente em 1814 [data da intervenção militar inglesa em Portugal em sua defesa contra os invasores napoleónicos] e à recusa portuguesa de aceitar o mesmo papel subalterno”.

A batalha de La Lys, em abril de 1918, “foi uma catástrofe”, apesar de que “a missão que lhe fora confiada nunca poderia ter sido cumprida”, e a hostilidade dos britânicos para com os portugueses se possa dever a duas razões, adiantadas pelo historiador.

A primeira, pelo facto de o CEP, tal como lhe fora pedido, não ter conseguido ganhar “horas preciosas, na Linha B, para o fortalecimento das linhas à retaguarda, atrasando o avanço alemão”.

“Não o fizeram claramente”, declara Filipe Ribeiro de Meneses.

A segunda, “mais séria, foi a natureza da retirada e a forma como os soldados e oficiais do CEP passaram as linhas inglesas, à retaguarda, sem parar; nem os rios Lawe e Lys ofereceram aos portugueses proteção suficiente para se recomporem e continuarem a contribuir para o esforço comum”.

“Foi o sentimento de uma batalha perdida” e “incapaz de contribuir minimamente para deter o inimigo”.

Por outro lado, sobre este colapso bélico português, refere o historiador, que “não mais deveriam considerações políticas e diplomáticas ditar a forma como os generais” conduzem a guerra.

Ribeiro de Menezes, de 49 anos, é professor de História na Universidade de Maynooth, na República da Irlanda, e autor, entre outros títulos, de “Salazar: Uma Biografia Política” (2010) e “A Grande Guerra de Afonso Costa” (2015).

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