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Geringoncices

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Tempos houve em que se fazia regra da declaração solene da palavra dada. Valia mais do que uma escritura, dizia-se. Ultimamente, triste sina, se há evidência que a novela à volta da TSU revela é que, com este PS, nem com escritura lavrada a palavra dada é palavra honrada. Pior do que tudo, parece que isso não importa nada.

O relacionamento da “geringonça” assentou em acordos formais. António Costa, Catarina Martins e Heloísa Apolónia subscreveram o que o PEV catalogou de “posição conjunta (…) sobre a situação política” e o BE escreveu que poria “fim a um ciclo de degradação económica e social”, garantindo “uma base institucional bastante para que o PS possa formar Governo”. Em ambos os textos foi redigido que “não constará do Programa de Governo qualquer redução da TSU das entidades empregadoras”. Mas foi tudo “para português ver.”

Na primeira oportunidade, o PS decidiu na concertação social, carinhosamente tida por Augusto Santos Silva na conta de uma feira do gado, a redução da TSU em 1,25%. António Costa confiou na previsibilidade da posição do PSD e do CDS que, validando o entendimento, permitiria à extrema-esquerda fazer o número da reação contra o frete feito aos patrões, sem consequências para a maioria parlamentar que acha poder existir só para quando dá jeito. Azar nítido, o PSD não foi na conversa. O CDS idem. Muito agastada, Heloísa Apolónia prometeu “vigilância”, dramática reação de quem gritava a propósito proclamações de princípio. E no final, suprema hipocrisia, se os acordos falharem – entre a “geringonça” e com a Concertação Social – a culpa estará, para a Esquerda, em quem dizem ser uma minoria parlamentar, a que nessa medida não se permite governar, e não em quem se legitima no somatório das parcelas derrotadas, para garantir uma maioria que quando é chamada a mostrar coesão por razões de substância, se percebe não valer nada.

A propósito, mandaria a prudência que, pretendendo o PS uma solução com a Concertação Social, que violava necessariamente as garantias dadas ao BE e ao PEV, António Costa ao menos chamasse Passos Coelho e Assunção Cristas às conversações. Mas não. O que diz tudo.

Em outubro de 2015, quando o PSD e o CDS queriam formar Governo, por terem vencido as eleições, Carlos César dizia que, na falta de maioria, Passos Coelho era obrigado a “dialogar com o PS”, não podendo “tratar o PS como se fosse o CDS”.

Perceba então o PS que o CDS e o PSD também não são o PCP, o BE ou o PEV. Felizmente. Se têm a maioria, governem-se. E já agora, governem.

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