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Exposição de Ângelo de Sousa em Paris: o sol e o solo de Portugal

angelo de sousa ++ PINTOR ARTISTA PLASTICO - apos varios anos sem produzir novas obras numa crise de criatividade

A primeira exposição individual de Ângelo de Sousa (1938-2011) em França tem por objetivo mostrar ao público “a cor e o grão negro” da sua obra, simultaneamente “solar” e “ancorada no solo”, disse à Lusa o comissário da exposição.

“Ângelo de Sousa – La Couleur et Le Grain Noir des Choses” (“A Cor e o Grão Negro das Coisas”) foi o título escolhido pelo comissário Jacinto Lageira para resumir a mostra que vai estar aberta ao público de 25 de janeiro a 16 de abril, na delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian.

“[O título] tem a ver com essa situação de opor de maneira assim formal a cor – que é um tema muito principal no trabalho dele, na pintura, no desenho e na fotografia – e esse grão negro das coisas que é, no sentido literal justamente, o grão mesmo negro das coisas que ele fotografava, o chão, o chão de cimento, a areia, as pessoas na rua, aquela coisa que encontrava nas paredes, nos muros, na cidade e que ele encontrava também na natureza”, explicou Jacinto Lageira à Lusa.

O professor catedrático na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne pretendeu mostrar “essa dupla cara ou faceta ancorada no solo, no chão – no sentido às vezes literal – e ao mesmo tempo essa coisa assim celeste” e “assim muito solar, muito colorida”, sem esquecer uma relação “mais metafórica” com “o aspeto negro da vida”, até porque o artista percorreu, a partir dos anos de 1950, “aquele período bastante negro de Portugal”.

A exposição privilegiou trabalhos de pintura e fotografia, “uma escolha bastante drástica”, perante a vasta produção de um artista que também se distinguiu na escultura, instalação, filme, vídeo, gravura, desenho e na experimentação de diversas técnicas, materiais, suportes, formatos e escalas.

A mostra começa com um vídeo que apresenta os chamados “slides de cavalete” (1978-1979) em que uma centena de diapositivos coloridos e geométricos são projetados numa superfície branca como se fossem telas efémeras, replicando cores e formas experimentadas na pintura.

O tema das mãos percorre a exposição, a começar com uma seleção de fotografias em grande escala e a cor de detalhes de mãos, surgindo, mais adiante, em desenhos em telas de grande formato, em fotografias a preto e branco de formato mais reduzido e num dos filmes experimentais.

Há, ainda, várias pinturas monocromáticas de grande formato dos anos 70 e 80 e as chamadas “maquetes” ou “pequenas esculturas” de formas atípicas que desenham o espaço.

Na última sala, destaque para um conjunto de fotografias a preto e branco (1969-1985) que faz parte de “uma série enorme de mil e tal fotografias que vão ser apresentadas a pouco e pouco em Portugal, mas que nunca foram realmente apresentadas” e que foram classificadas pelo artista como “umanistas” (sem H), retratando instantâneos do quotidiano, com pessoas, paisagens e objetos.

O objetivo da exposição é “apresentar ao público parisiense e francês uma obra quase completamente desconhecida”, pioneira na história da arte contemporânea portuguesa e não só.

“Se comparamos com o que se passou em França naquela altura, afinal o Ângelo tem uma obra muito boa, muito excelente e, às vezes, faz coisas que vão ser feitas em França mais tarde, na fotografia ou na pintura. Por exemplo, as fotografias da mão, muitos artistas vão fazer isso nos anos 80, 90, mas ele fez isso no final dos anos 60 e no princípio dos anos 70”, acrescentou o professor de Filosofia de Arte e de Estética.

Jacinto Lageira sublinhou que, além de uma “descoberta” para os franceses, é uma “obra que até em Portugal ainda falta descobrir uma parte, porque não foi tudo apresentado”, nomeadamente ao nível da fotografia.

Ângelo de Sousa nasceu em 1938, em Lourenço Marques, Moçambique, e morreu no Porto, em 2011, onde viveu e trabalhou desde 1955. Fez o curso de Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto, frequentou a St. Martin’s School of Art e a Slade School of Fine Art, em Londres, e integrou o grupo Os Quatro Vintes, em 1968.

O artista venceu, em 1975, o Prémio Internacional da Bienal de São Paulo, fez parte da exposição coletiva “Arte Portuguesa Contemporânea”, no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris (1976), e teve duas retrospetivas de desenho/pintura (1993) e de filme/fotografia (2001), no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, e mais duas retrospetivas de desenho (2003) e de escultura (2006), na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

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