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Catarina Salgueiro Maia: se todos fizermos um pouco, Portugal vai para a frente

A filha do capitão Salgueiro Maia tem uma veia revolucionária. Apresenta-se como Catarina Maia porque se recusa a tirar benesses de ser filha de um dos líderes militares do 25 de Abril – tal como o pai recusou cargos depois da revolução que ajudou a fazer. Foi candidata nas legislativas pelo Bloco de Esquerda ao círculo da Europa mas tem pena que o partido não conte mais com ela. Trabalha num lar de idosos e colabora como voluntária no portal online BOM DIA, um dos maiores meios de comunicação para emigrantes do norte da Europa, sediado no Luxemburgo. Diz que não é jornalista, mas age como se fosse. Tem 31 anos, três filhos, e não pensa voltar tão cedo para Portugal.

“Estou no Luxemburgo há seis anos. Não vim por necessidade, tinha o meu emprego em Portugal, mas não quis afastar o meu filho, que era pequenino, do pai que tinha vindo para cá trabalhar. Fiquei durante quatro anos, voltei para Portugal – porque o sonho de qualquer emigrante é voltar para o seu país, sem dúvida – , mas não correu muito bem e fiquei apenas sete meses. Foi há dois anos, a crise estava muito acentuada.

Aqui tenho o meu emprego, não estou efetiva mas tenho um salário bom, casa, uma vida familiar estável. Encontrei um porto de abrigo. Encontrei fora aquilo que gostava de ter encontrado em Portugal: uma estabilidade financeira que me permita viver, e não apenas sobreviver, disse em entrevista ao jornal Público.

Eu sou uma portuguesa desapontada com o meu país. Não com os governantes, mas com aquilo que fizemos, ou não fizemos, por ele. A minha mãe disse-me ontem uma coisa maravilhosa ao telefone: se todos fizermos um bocadinho por Portugal, Portugal vai para a frente. É a realidade. Se todos lutarmos um bocadinho, é tudo mais fácil. Mas eu não sinto isso. Sinto que o povo português reclama, aponta o dedo, mas não faz nada para mudar isso, não é capaz de dar a sua quota parte para mudar o país.

Os sucessos que temos tido não chegam. Portugal não é feito de campeonatos da Europa nem de Festivais da Canção – quem ganhou tem todo o mérito, mas precisamos de mais. Precisamos de evoluir noutras áreas. Mostrar que temos uma ciência digna de prémios, precisamos de mostrar que temos escritores fantásticos, cineastas maravilhosos – que temos, mas não são reconhecidos.

Parece que voltamos um bocadinho ao tempo de Salazar – Fátima, futebol e festival, em vez de fado. Portugal não é isso, pelo menos não é só isso. Somos um país riquíssimo em muitas áreas e temos de ser reconhecidos por isso.

Se o meu pai estaria desapontado? É difícil responder por ele. O meu pai, como tantos outros, lutou para melhorar o nosso país, lutou por dar aos portugueses aquilo que eles não souberam manter, que foi a nossa liberdade, a nossa esperança. Talvez ele estivesse desapontado pela falta de iniciativa que temos enquanto cidadãos. Por outro lado, talvez estivesse satisfeito pela meia dúzia de pés-descalços que tentam lutar, que tentam investir no país (mas que muitas vezes têm de sair).

Portugal é conhecido pelos portugueses que pegaram nas suas ideias e levaram o nome de Portugal mais além. Isso iria fazê-lo orgulhoso, por ter ajudado a que tal fosse possível. Eu acho que ele não estaria desapontado a 100%, mas com algumas coisas, sim.

Tinha sete anos quando ele morreu, tenho boas lembranças: lembro-me das festas, de brincar com ele, de irmos para a praia e de me tentar ensinar a nadar. A minha mente bloqueou a doença do meu pai, ele também nunca nos transmitiu que estava a sofrer. Tenho a imagem da última vez que o vi no hospital antes de falecer, é a única lembrança má. O resto, é tudo bom. Era um pai maravilhoso.

Eu colaboro com um portal online direcionado para as comunidades portuguesas pela Europa, mas que não é reconhecido – é uma associação sem fins lucrativos, e não uma empresa. Nalgumas notícias chegamos a ter um milhão de visualizações. E agora com a visita do nosso Presidente, temos tido várias barreiras. Não nos deixaram fazer acreditação e não nos deixaram entrar nos sítios onde ele foi. Não é uma questão política, não somos um meio oposicionista. É verdade que temos muito sucesso e isso pode não agradar a algumas pessoas. Acho que é por questões mais comerciais. Mas a verdade é que fomos impedidos de fazer o nosso trabalho. Afinal é o nosso Presidente, nós somos portugueses e trabalhamos para portugueses, mas ficamos à porta. É maldade.

Eu estou legalizada, estou recenseada, voto sempre que me é permitido. Eu não deixo de ser portuguesa, não deixo de querer o melhor para Portugal, e não deixo de querer que façam o melhor por Portugal. Se ao votar posso contribuir para isso, eu voto.”

Leonete Botelho, jornal Público

Marcelo Rebelo de Sousa no Luxemburgo – PDF

 

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