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A muleta

© Pixabay

Um primeiro-ministro que governa tendo perdido eleições não prescindirá certamente de um ministro por razões de princípio. Noutros tempos, um ministro era um ministro, uma mentira era uma mentira e havia consequências. Manuel Pinho foi demitido à conta de dois dedos em riste apontados à bancada do PCP, num momento de humor mal medido. Em modo geringonça, as coisas mudaram. Um ministro é um camarada correligionário, a mentira passou a “erro de perceção mútuo” e a repetição da declaração “caso encerrado”, mesmo sem explicações capazes, substituiu o prudencial sacrifício de quem abdicava ou era substituído no cargo, para preservação da dignidade das instituições democráticas. Em 2008, quando em causa esteve outro ministro e outro Governo – a propósito de uma carta em que Rui Machete argumentava não ter sido acionista da SLN, dona do BPN – João Semedo foi cristalino: “Um cidadão que mente não tem condições políticas para ser membro do Governo, ainda mais quando o faz numa comissão de inquérito, o que acarreta responsabilidade pessoal e consequências criminais. O mais natural é que a Assembleia da República comunique este facto ao Ministério Público”.

Em janeiro de 2017, Mário Centeno garantiu não existirem trocas de correspondência com António Domingues sobre condições para a aceitação de convites para a CGD. Em fevereiro soube-se das SMS supostamente de sentido contrário. Mas o BE não permitiu sequer que o tema fosse apurado.

Percebe-se a manifesta infelicidade de Zeinal Bava, por ter sido ouvido no início de 2015, na comissão de inquérito à gestão do BES, quando o PS, o PCP e o BE se sentavam nos bancos da oposição. Hoje, Mariana Mortágua não se surpreenderia com o “bocadinho de amadorismo para quem ganhou tantos prémios”. No frete ao Governo, discorreria com a mesma certeza sobre o absurdo de se pretender ouvir um gestor tão premiado. E Catarina Martins diria, como fez sobre a CGD, o caso “está fechado, encerrado”.

O BE aburguesou-se. Engordou. Anda anafadinho. Deslumbrou-se com as luzes dos salões do poder. Entusiasma-se mais com tostas de caviar regadas a Moet Chandon, do que com sonhos revolucionários à volta do camarada Ernesto Guevara de la Serna, algures na Sierra Maestra. De “Che”, para já, só mesmo a fotografia de Korda. Na parede da sede do partido sempre dá um ar de Esquerda. O teatro tem destas coisas.

Em S. Bento, o BE valida tudo quanto finge contestar no Parlamento Europeu. UE, Euro, Tratado Orçamental, NATO, impostos, austeridade. Avaliados pelos resultados, não está mal.

Hic jacet Karl Marx.

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