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Colunistas

A noite

a noite dissolvendo-se na urina pura do cosmos
uma mulher lava os seus cabelos nupciais
e entoa acalantos para o filho que haverá
de nascer nos cerejais da primavera
na adega, na eucaristia da uva acabada de pisar, relumbram já versos
e esboços de tratados filosóficos
um rio marítimo desembarca constantemente nesta cidade
e o orvalho ensina hidrologia aos insectos
o tempo, o líquido mais fluido e incompreensível, o mais pavoroso,
molha-nos atrozmente os ossos
fluido precioso o saber contido nos livros
fluido sagrado e milagroso o amor
fluido poético o beijo
fluido jardineiro o sorriso da criança
lágrimas de alegria têm o perfume dos jacintos
líquido também o madrigal do melro
e a carne outoniça das tílias
a chuva cessou de cair e o amistoso fogo escorre para o céu nublado
líquidos também os trilhos do deslumbramento
e as mãos que nos deitam no coração do próximo

e que dizer do sangue de deus?

dm

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