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“A casa do sono” de Jonathan Coe

Ficha técnica

Título – A casa do sono

Autor – Jonathan Coe

Editora – Edições ASA

Páginas – 320

Opinião

Sempre fui dorminhoca, sempre tirei prazer em dormir, em enroscar-me debaixo dos lençóis, fechar os olhos e deixar-me ser invadida pelo sono. Em jovem reivindicava o direito indiscutível de dormir as minhas dez horinhas. Agora reconheço que a maternidade moldou esse direito, reduzindo-o a quantidade bem menores. Contudo, o prazer mantém-se, sobretudo naqueles dias gelados de inverno, em que nada há melhor do que rolar para o lado, aconchegar os cobertores e regressar ao mundo do silêncio, da quietude e dos sonhos.

Por ser tão dorminhoca, por apreciar tanto o sono e as suas características tão beneficamente saborosas, decidi, após ter lido algumas opiniões positivas sobre a obra A casa do sono, trazê-la da biblioteca e embalar na sua leitura.

Arranquei com a mesma numa noite como uma outra qualquer, em que sempre leio já deitada na cama, para melhor entrar no mundo dos sonhos. Anotei mentalmente a advertência do autor sobre o facto dos capítulos ímpares se reportarem aos anos de 1983-84 e os pares às duas últimas semanas de junho de 1996. Fui sendo apresentada às personagens principais e constatando que praticamente todas se debatiam com o sono e as suas variantes. Fui assimilando os sonhos, os projetos, as ambições de todos e verificando o quanto esses mesmos sonhos, projetos, ambições se concretizavam ou não. Fui absorvendo o estilo aparentemente simples do autor, por vezes irónico, sarcástico, humorístico, por vezes realista, amargo, sofrido. Fui ganhando empatia por Sarah, por Robert. Fui ganhando uma clara antipatia por Gregory. Fui aprendendo as fases do sono e que dão nome às partes que dividem a obra. E fui sendo surpreendida com as reviravoltas e torcidas da narrativa.

Mesmo nos dias em que o “João-Pestana” (ou “Sandman”) ameaçava fechar-me as cortinas e enviar-me para a Fase Um de um retemperador soninho, teimei em ler mais uma página, mais um capítulo, porque todas as peças se iam encaixando de uma forma quase perfeita e o sabor que ia retirando da leitura da caixa que emoldurava as vidas de quatro ou cinco pessoas banais, relacionadas por vivências do passado, era cada vez mais apelativo, culminando num desenlace surpreendente e muito satisfatório.

Foi assim uma leitura deveras interessante, com um toque de humor britânico e que me leva a querer conhecer mais do que já escreveu Jonathan Coe, um autor com muitos traços de brilhantismo.

Uma obra que recomendo, com personagens muito peculiares, como podem comprovar pela sinopse, mas que merecem que as conheçamos!

NOTA – 08/10

Sinopse

Um enorme edifício no alto de uma falésia, o barulho das vagas, um labirinto de corredores vazios onde o ruído dos passos ecoa… A propriedade de Ashdown abrigou nos anos oitenta uma residência de estudantes: aí encontramos Sarah, que sofre de narcolepsia e não consegue distinguir os sonhos da realidade; o seu namorado, Gregory, que só atinge o orgasmo ao pressionar com os dedos os olhos de Sarah; Terry, um pretensioso crítico de cinema que dorme pelo menos catorze horas por dia e nunca consegue recordar o que sonhou; e Robert, capaz de amar sem limites. Quatro personagens simultaneamente trágicas e hilariantes, capazes de tecer entre si relações extremas que, contudo, não os impedirão de se afastarem.

Doze anos depois, a residência é transformada numa casa de saúde especializada em perturbações do sono. Estranhamente, os ocupantes do edifício voltam a ser os mesmos. Mas nem sempre se lembram dos laços complicados que em tempos ligaram as suas vidas…
Movendo-se entre o passado e o presente, A Casa do Sono é um romance desconcertante, uma estranha e dilacerante história de amor sobre a realidade e o sonho, a memória e a identidade.

in O sabor dos meus livros

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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